Estabilização ocorreu após 2010, indica análise de dados do SEEG lançada pelo Observatório do Clima; setor ainda é o que mais emite gases de efeito estufa na economia nacional.
Após uma queda expressiva entre 2005 e 2010, as emissões por desmatamento no Brasil mantiveram o mesmo patamar até 2014: cerca de 0,82 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) por ano. As informações vêm de uma análise inédita dos dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima, realizada pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que acaba de ser lançada. Elas acendem uma luz amarela sobre os compromissos de redução de emissões por desmatamento no Brasil, que precisarão de estratégias aprimoradas para que possam ser cumpridos.
De acordo com novos dados, o setor de mudanças de uso da terra emitiu, entre 1990 e 2014, cerca de 56 bilhões de toneladas de CO2e, em sua maioria pelo desmatamento de três biomas: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. A maior fonte foi a derrubada de florestas na Amazônia, responsável por 65% das emissões nacionais por desmatamento no período.
Até 2004, a derrubada de floresta amazônica ocorreu de maneira acelerada, o que se refletiu em mais de 23 bilhões de toneladas de CO2e emitidas entre 1990 e 2004. Diversas ações para conter o desmatamento na Amazônia foram realizadas pelo governo federal em parceria com os governos estaduais e sociedade civil, o que reduziu a média anual de emissões (que foi de 1,57 bilhão de toneladas de CO2 equivalente de 1990 a 2014). No ano de 2014, o setor de mudanças de uso da terra reduziu 13% das emissões em relação a 2013 (0,77 bilhão de toneladas de CO2 equivalente).
Os dados de 2014 do SEEG também foram atualizados à luz da metodologia do Terceiro Inventário Nacional de emissões de gases de efeito estufa, publicado em 2016. O ajuste mostra que o desmatamento ainda é o principal responsável pelas emissões do Brasil, com 42%. Dois Estados, que historicamente revezam entre si o posto de campeões do desmatamento, concentraram metade do total das emissões do país: Mato Grosso (27%) e Pará (23%). Atividades agropecuárias e especulação fundiária, sobretudo no Pará, estão diretamente associadas aos números elevados da região.
“Essa análise mostra que, apesar dos grandes avanços obtidos, a tragédia do desmatamento ainda está longe de ter sido estancada no Brasil. Ao contrário, basta afrouxarmos os controles, como ocorreu com o enfraquecimento do Código Florestal, para que o problema volte”, diz Paulo Barreto, pesquisador do Imazon e co-autor do relatório, juntamente com Amintas Brandão Jr.
Segundo Brandão Jr., os dados reforçam a importância de um reforço às políticas de controle, mas, principalmente, de implementação de estratégias de uso sustentável da floresta. “Nós parecemos ter atingido o limite das reduções de emissões que conseguiríamos obter com as ações de comando e controle. Se quisermos cumprir as metas do Acordo de Paris, precisamos ser ambiciosos e mirar em desmatamento zero”, disse.
O relatório, divulgado anualmente, recomenda a melhoria dos dados disponíveis para cálculo e o aprimoramento das estratégias para reduzir as emissões do setor. Finalizar e validar o registro de propriedades no cadastro ambiental rural; expandir o monitoramento anual/mensal do desmatamento para além da Amazônia, em especial o Cerrado; combater o desmatamento especulativo; ampliar os acordos do setor privado contra o desmatamento; melhorar a cobrança do Imposto Territorial Rural; criar incentivos econômicos para a conservação; e, remover barreiras ao investimento florestal são algumas das ações propostas.
O relatório completo pode ser baixado aqui:
http://seeg.eco.br/analise-de-emissoes-de-gee-no-brasil-1970-2014/
SOBRE O SEEG:
O SEEG é uma iniciativa do Observatório do Clima para realizar a estimativa anual de emissões de gases de efeito estufa no Brasil e que foi recentemente expandida para o Peru e para a Índia. Além do relatório setorial que analisa as emissões de mudança de uso da terra, produzido pelo Imazon, também são produzidos anualmente relatórios sobre agropecuária, pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), energia e processos industriais, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), e de resíduos, pelo, Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade.
Postado por Carlos PAIM
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