terça-feira, 13 de outubro de 2015

Mudança climática levará seca ao leste da Amazônia e chuva ao oeste

Simulações projetam desequilíbrio na distribuição de umidade após 2040.
Influências do Atlântico e do Pacífico sobre a região vão mudar, indica estudo.

Rafael Garcia Do G1, em São Paulo
Alterações médias de precipitação (em milímetros por dia por século) previstas para a AmaZônia até 2100 (Foto: Duffy et al./PNAS) 
Alterações médias de precipitação (em milímetros por dia por século) simuladas para a Amazônia até 2100. Pesquisadores projetam maior desequilíbrio na distribuição de umidade (Imagem: Duffy et al./PNAS)
O aquecimento global vai ampliar a ocorrência de eventos climáticos extremos na Amazônia, causando mais secas no leste e mais inundações no oeste. Essa é a conclusão de um estudo que avaliou as projeções de 35 simulações de computador para o clima da região.
O trabalho, publicado na edição desta terça-feira (13) da revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, mapeia os mais prováveis impactos da mudança climática para a região. Os modelos computacionais que simularam as condições futuras apontam uma maior frequência de eventos que degradam a floresta, também.
“Os modelos sugerem que as áreas afetadas por secas meteorológicas moderadas e severas vão quase dobrar e triplicar, respectivamente, até 2100”, afirmam os pesquisadores no artigo. “Extremos de umidade também estão projetados para aumentar depois de 2040.”
A pesquisa foi liderada por Philip Duffy, do Centro de Pesquisas de Woods Hole, em Massachusetts (EUA) e teve participação do brasileiro Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
A maioria das mudanças mais drásticas, assumindo um cenário conservador de emissões de CO2, delineado pelo programa internacional CMIP, ocorre na segunda metade do século. As secas recentes de 2005 e 2010, dizem os cientistas, são “análogas das condições projetadas para o futuro”.
Desequilíbrio oceânico
Ainda não está muito claro por que os modelos produziram comportamentos contrastantes para diferentes áreas da Amazônia, mas cientistas acreditam que isso seja resultado de diferenças entre os aquecimentos que Atlântico e o Pacífico sofrerão.

“Temperaturas de superfície do mar abaixo da média no Pacífico tendem a desencadear períodos de umidade extrema na Amazônia Ocidental”, escrevem os pesquisadores, sobre as projeções de chuvas torrenciais naquela região.
As secas, afirmam, provavelmente estão ligadas a dois diferentes fenômenos. O primeiro é conhecido pela sigla ENSO (Oscilação do Sul do El-Ninõ), que alterna os períodos de superaquecimento e resfriamento das águas do pacífico. O segundo é a AMO (Oscilação Multidecadal Atlântica), uma variação nas médias de temperatura do Atlântico com ciclos de uma ou mais décadas.
“Um aumento na amplitude da ENSO e da AMO poderia explicar os aumentos projeto dos em umidade extrema e secas no oeste e noe leste, respectivamente, da bacia amazônica”, dizem os pesquisadores.
As consequências do aquecimento global previstas pelos modelos não levaram em conta ainda possíveis efeitos do desmatamento. O corte de floresta reduz a evapotranspiração, umidade bombeada para o ar por árvores e seres vivos. Uma redução na cobertura de árvores poderia intensificar ainda mais as secas, dizem os cientistas.

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