terça-feira, 15 de dezembro de 2009

BNDES libera R$70 milhões para projetos do Fundo Amazônia


09 de dezembro de 2009


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou hoje (9) a liberação de R$ 70,3 milhões para os primeiros cinco projetos que serão financiados com recursos do Fundo Amazônia. Criado em 2008, o fundo recebeu US$ 110 milhões da Noruega, que até 2016 deve aportar US$ 1 bilhão, e tem prometidos 18 milhões de euros da Alemanha até março de 2010.

Os projetos aprovados foram apresentados pelo Fórum Amazonas Sustentável, ligado ao governo do Amazonas, pelas organizações não governamentais Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), TNC Brasil e Instituto Ouro Verde e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). As iniciativas contemplam ações de redução do desmatamento, apoio à regularização fundiária e recuperação de áreas degradadas.

De acordo com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, há pelo menos outros 20 projetos em fase de análise e mais 50 em consulta inicial. "O fundo não é apenas uma iniciativa no papel, já está plenamente operacional, é eficiente, tem capacidade de operar e prover resultados efetivo para o desenvolvimento sustentável da Amazônia", afirmou.

As organizações selecionadas irão agora assinar os contratos com o BNDES e, em seguida, o dinheiro começa a ser liberado. O repasse será feito por parcelamento, a partir de um plano de uso e comprovação de gastos, como em outros financiamentos do banco. A execução deve começar em janeiro e o tempo médio de duração dos projetos é de três anos. Os investimentos poderão ser monitorados publicamente por meio da página do Fundo Amazônia na internet.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a apresentação dos primeiros projetos credencia o Brasil para garantir mais recursos internacionais para o fundo durante a 15ª Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca. Sem revelar valores ou citar os países, Minc afirmou que durante a COP-15 pelo menos dois doadores confirmarão aportes à iniciativa brasileira.

Para o ministro, a demora na aprovação nos projetos foi necessária para evitar a "ecopicaretagem".

Além do Fundo Amazônia, o BNDES também será responsável pela gestão do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, que segundo Minc, deve ser sancionado esta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O fundo vai utilizar parte dos recursos do petróleo entre R$ 700 milhões e 800 milhões no primeiro ano para financiar ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e adaptação às consequências das mudanças climáticas.

Agência Brasil

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Agricultura é principal atividade em 59% das terras cadastradas na Amazônia

Danilo Macedo
Da Agência Brasil
Em Brasília


A agricultura é a principal atividade econômica em 59% das terras cadastradas no processo de regularização fundiária iniciado a pouco mais de três semanas pelo Mutirão Arco Verde Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em seguida, aparece a pecuária como fonte de renda em 33% das posses.

A quantidade de pequenas propriedades, com de até quatro módulos fiscais, representa 84,82% dos imóveis. "Esse dado de tamanho de propriedade confirma as informações que tínhamos e mostra que estamos atingindo, realmente, o público que mais necessita, os agricultores familiares", afirmou o superintendente Nacional de Regularização Fundiária da Amazônia Legal, Raimundo Sepeda.

Apesar de as estatísticas se referirem aos primeiros 1,5 mil pedidos de legalização fundiária, cerca de 0,5% dos 296.859 esperados até 2011, ele considera que os dados são indicadores representativos do que deve ser encontrado daqui para frente. Para o superintendente, os dados de tamanho da propriedade e da principal fonte de renda são complementares, na medida em que a agricultura é a principal atividade dos pequenos produtores. "É a lavoura, a horta, o cacau ou alguma outra lavoura permanente, e a pecuária passa a ser uma atividade desenvolvida mais pelas propriedades médias e grandes."

Quanto à localização das plantações, Sepeda disse que elas se concentram próximo a cidades e rodovias, devido às maiores dificuldades de se transportar os alimentos por estradas de terra, como é feito com o gado na região. "Como na Amazônia há uma carência muito grande de infraestrutura, principalmente de estradas vicinais para o escoamento da produção, a gente acredita que a agricultura seja uma atividade mais das áreas periféricas."

Uma das surpresas, para o superintendente, é que 52,74% dos atendidos nasceram na Amazônia. Segundo ele, o fato derruba o mito de que a região está colonizada, em sua maioria, por pessoas vindas de outras regiões do país. Uma explicação pode ser o grande espaço de tempo que se ficou sem regularização, frustrando expectativas de famílias que se cansaram de esperar e retornaram à sua terra natal, vendendo a propriedade ou deixando-as para os filhos, esses, sim, nativos da área.

Outros dois dados interessantes são as quantidades de pedidos em que o requerente é o primeiro ocupante da terra (51,8%) e que são mulheres (26,3%). "Não esperava um número tão expressivo porque, devido à colonização, há uma cultura machista na região e dificilmente encontramos, na área rural, uma família sendo gerida por mulher", disse Sepeda.

Até esta quarta-feira (22), o número de pedidos de regularização já havia aumentado para cerca de 2.700. Após o cadastramento, as propriedades serão georreferenciadas para a definição de seus limites. De acordo com Sepeda, o orçamento do programa para este ano é de R$ 60 milhões, e os primeiros editais de licitação para contratar as empresas que farão o georreferenciamento, em cerca de 3 mil áreas, serão lançados no dia 27 de julho.

"Estamos criando um ambiente para regularizar 90 mil posses em 2009, mas vai depender de as pessoas virem até nós para para pedir a regularização e serem cadastradas. Trabalhamos com a previsão de 90 a 120 dias depois do cadastramento para a entrega dos títulos", disse o superintendente. Ele ressaltou a importância de os produtores procurarem as superintendências do Incra e os postos criados por onde o mutirão está passando.

Até agora o mutirão atuou nos estados do Pará, de Mato Grosso e Rondônia. Na próxima semana, o município de Amarante do Maranhão (MA) será atendido.

* do UOL Notícias

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lula sanciona MP da Amazônia, mas veta transferência de terra a pessoa jurídica

Claudia Andrade*
Do UOL Notícias
Em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta quinta-feira (25) a Medida Provisória 458/2009 (MP da Amazônia) com veto ao artigo 7º na íntegra, que previa a transferência de terras públicas a pessoas jurídicas e a transferência à exploração indireta, ou seja, a quem não ocupa a área. Lula também vetou parte do artigo 8º que fazia referência ao 7º.

Com a sanção da medida, 67,4 milhões de hectares de propriedades da União na Amazônia Legal (o que corresponde aos territórios da Alemanha e Itália juntos) serão transferidos sem licitação a particulares que ocuparam as terras antes de 1º de dezembro de 2004.
MP da Amazônia favorece grilagem, desmatamento e conflitos agrários, dizem organizações

Ambientalistas, ONGs, movimentos sociais e organizações de trabalhadores rurais afirmam temer as consequências da aprovação da Medida Provisória 458/2009, apelidada de "MP da Amazônia", que transfere a particulares terras da União de até 1.500 hectares (área equivalente a cerca de 2.000 campos de futebol) situadas na Amazônia Legal.

* Leia a matéria completa


Os ocupantes poderão receber gratuitamente títulos de terras com até 100 hectares, adquirir a preços simbólicos propriedades com área de 100 a 400 hectares, ou comprar a preço de terra limpa e em um prazo de até 20 anos terras com área de 400 a 1.500 hectares (área equivalente a cerca de 2.000 campos de futebol).

A mensagem de veto diz que eles ocorreram "por contrariedade ao interesse público" e que a decisão foi tomada depois de ouvidos os ministérios da Justiça, da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente. Todos manifestaram-se a favor do veto.

A justificativa para o veto do artigo 7º explica que o novo marco legal para regularização fundiária na Amazônia Legal teve como base dados que apontavam que a maior parte das ocupações de terras na região "era exercida por pequenos e médios agricultores". A partir disso foram instituídos mecanismos para viabilizar a regularização de ocupações exercidas "por pessoas físicas ocupantes de pequenas e médias porções de terras da União, exploradas diretamente pelo ocupante que, por sua vez, tem nessa exploração sua principal atividade econômica".

Questões de ordem econômica teriam ampliado o alcance da medida, afirma o texto: "diante da importância da regularização fundiária para o desenvolvimento econômico e social da região, a proposta recebeu emendas que ampliaram seu objeto" incluindo donos de mais imóveis, que exploram indiretamente a área ocupada e pessoas jurídicas.

A impossibilidade de se identificar as áreas nestas condições seria a razão para o veto. "Não é possível prever seus impactos para o desenvolvimento do processo de regularização fundiária, uma vez que não há dados que permitam aferir a quantidade e os limites das áreas ocupadas que se enquadram nessa situação", finaliza a mensagem.

Assinada pelo próprio Lula em 27 de abril e enviada ao Congresso, a medida foi aprovada na Câmara dos Deputados e no Senado (em votação apertada, por 23 votos a 21) com alterações substanciais, como a que permitia a transferência de propriedades para pessoas jurídicas e ocupantes indiretos (que não vivem na terra) e a que reduz de dez para três anos o prazo de carência após a transferência para vender propriedades com mais de 400 hectares. Destas, Lula vetou somente a que previa a transferência para pessoas jurídicas.

Os proprietários rurais que receberem a terra serão obrigados a reflorestar as áreas que foram desmatadas além do permitido por lei - 20% da área total de cada propriedade - e terão 30 anos para reflorestar a área excedente desmatada. Segundo o deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), relator do processo da Câmara, a MP deve atingir 400 mil propriedades e beneficiar 1,2 milhão de pessoas.

* Com informações do UOL Notícias, em São Paulo
UOL Celular

domingo, 21 de junho de 2009

Pesquisador defende benefícios do desmatamento e irrita ambientalistas

da Agência Brasil

Em uma apresentação que causou polêmica, o pesquisador e ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Eustáquio Reis, defendeu neste sábado (20) os benefícios do desmatamento e incomodou ambientalistas que formavam a plateia de debates do fórum sobre meio ambiente, realizado paralelamente às atividades culturais do 11º Festival Internacional de Cinema Ambiental.

Doutor em economia, Reis começou sua apresentação argumentando que não se pode falar em meio ambiente sem levar em conta as vantagens econômicas do desmatamento. Segundo o pesquisador, na maioria das vezes há relação direta entre devastação e ganhos econômicos, como no norte de Mato Grosso, região que enriqueceu com base na produção de soja em larga escala. "O desmatamento não tem só custos. Tem benefícios. É fundamental ter noção dos benefícios", destacou.

"As estradas são vistas como demônios na Amazônia. Não é assim. Alguns efeitos podem ser minorados. E seria criminoso com os produtores e com o país negar oportunidades mais competitivas de transporte", acrescentou.

O pesquisador chegou a ouvir da platéia que sua apresentação era "simplista" e com falhas na análise de gráficos e dados científicos.

Reis argumentou que, em nome da garantia de bem-estar das futuras gerações, a sociedade não poderá abrir mão do avanço sobre áreas ainda preservadas para expansão da produção agropecuária. "Não creiam que teremos que abdicar da soja e do gado", disse. Para ele, a estabilização do desmatamento da Amazônia em cerca de 40% seria razoável. Atualmente, a área desmatada do bioma é de cerca de 15% do total.

O pesquisador questionou o falso consenso em torno do desenvolvimento sustentável e provocou os ativistas ao dizer que o desmatamento quase total da Mata Atlântica em São Paulo "não trouxe nenhuma consequência mais drástica" para o Estado ou para o país. "Pergunte aos italianos, aos japoneses, aos que vieram para o Brasil se eles se arrependeram de ter desmatado", provocou.

Reis ainda apontou a existência de interesses internacionais na conservação da Amazônia como sumidouro de carbono para reduzir os impactos das mudanças climáticas e questionou o cenário que prevê a transformação da floresta em savana por causa do aquecimento do planeta.

"Os modelos que previam mais chuvas para a Amazônia foram cortados. É um jogo de cartas marcadas. Essa ideia de savanização é até irônica. Se tivermos garantia de savanização da Amazônia, então o melhor é aproveitá-la logo antes que se torne improdutiva".

Diante dos ânimos exaltados da platéia em reação às idéias de Reis, o coordenador do fórum, professor Laerte Guimarães Ferreira, do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás, contemporizou e disse que a discussão sobre meio ambiente "não deve ser maniqueísta", com representantes do bem e do mal.

"Temos que tomar consciência da crise ambiental que vivemos, mas não existe bem e mal nessa discussão. São questões complexas do ponto de vista econômico, científico e de políticas públicas", ponderou.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ao lado de Blairo, Lula diz que não pode chamar desmatador de bandido

Ao lado do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR-MT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que não pode chamar desmatador de bandido.

Blairo --um dos maiores plantadores de soja do país-- é criticado por ambientalistas que vinculam o agronegócio ao desmatamento.

"Ninguém pode ficar dizendo que ninguém [alguém] é bandido porque desmatou.

Nós tivemos um processo de evolução, e nós, agora, precisamos remar ao contrário", disse Lula em Alta Floresta (MT).

O presidente disse que o desmatamento prejudica o Brasil internacionalmente.

"Nós temos que dizer para as pessoas que se houve um momento em que a gente podia desmatar, agora desmatar joga contra a gente, vai nos prejudicar no futuro, porque empréstimo internacional não sai, porque quando o Blairo for exportar a soja dele, o comprador na Alemanha, o comprador vai dizer 'Ah, é da região da Amazônia, que está destruindo?' 'É'. 'Então, não vamos comprar'. Então, hoje, preservar é uma vantagem comparativa para nós."

"Hoje, em vez de a gente dizer 'não pode cortar árvore', nós temos que incentivar e pagar para as pessoas plantarem as árvores que nós achamos que precisa plantar. Por que a gente não refloresta este país, e as pessoas receberem [recebem] por aquilo [isso]?", questionou Lula.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Regularização fundiária acirra embate entre ambientalistas e ruralistas



PEDRO DIAS LEITE
da Folha de S.Paulo

Uma das medidas mais significativas, e polêmicas, dos últimos anos na área ambiental, a aprovação pelo Senado de uma medida provisória de regularização fundiária da Amazônia acirrou ainda mais o debate entre ambientalistas e ruralistas.

A medida foi aprovada pelo Senado na quinta-feira passada e agora espera a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entrar em vigor.

O texto prevê a doação de terras até 100 hectares, uma cobrança simbólica para as propriedades até 400 hectares e a venda das que têm até 1.500 hectares para os proprietários que já estavam lá até 2004.

O objetivo é regularizar 67,4 milhões de hectares de terras públicas ocupadas ilegalmente na Amazônia, área equivalente à Alemanha e à Itália, juntas.

Ambientalistas e ruralistas reconhecem a necessidade de legalizar a situação dessas terras, mas há discordância sobre como fazê-lo.

De um lado, ambientalistas dizem que a medida do governo, da maneira como foi aprovada, vai provocar uma leva de ocupação ilegal, de proprietários e empresas em busca de terras à espera de uma nova rodada de legalizações.

O pesquisador-sênior Paulo Barreto, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), afirma: "O que vai soar para quem está fora da Amazônia é que estão doando terra, o que vai incentivar mais gente vindo para cá, para conseguir isso, o que só vai piorar. Um subsídio como esse estimula o desmatamento".

Do outro, proprietários elogiam o texto e dizem que vai acabar com a "bagunça".

O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, afirma que a MP vai abrir caminho para uma moratória de cinco anos no desmatamento da Amazônia. Segundo ele, a ideia em negociação é não derrubar nenhuma árvore nos próximos cinco anos, para avaliar a situação.
Arte/Folha

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Onça pintada de quatro anos de idade que estava ameaçada pelas cheias na região amazônica foi resgatada



Arquivo: Revista Viagem e Turismo

Uma onça-pintada de aproximadamente quatro anos de idade que estava ameaçada pelas cheias na região amazônica foi resgatada de uma comunidade ribeirinha na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas.

A fêmea, apelidada de Janaína, era mantida em uma jaula que, devido ao período de cheias na região, estava alagada. A situação fez com que as patas do animal ficassem bastante feridas.

A onça foi entregue ao Ibama pelos antigos donos no último dia 31 de maio. O animal foi então levado para a 16ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército, na cidade de Tefé, onde ficará em tratamento pelos próximos dez dias.
Depois de recuperado, o animal seguirá de barco para Manaus, em uma viagem que dura aproximadamente 48 horas. De lá, será transferido para Brasília e encaminhado a um zoológico em Uberlândia, Minas Gerais.

Cativeiro

A onça-pintada foi capturada e criada, desde filhote, em uma pequena jaula de madeira por um morador da comunidade Bate Papo, na Reserva Mamirauá.

Quando o criador da onça morreu, em agosto de 2008, seu pai decidiu entregá-la ao Ibama, devido ao comportamento agressivo do animal.

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que é cogestor da reserva, a alimentação do animal no cativeiro era composta basicamente por peixes. Em seu habitat natural, a onça se alimenta normalmente de mamíferos de médio e grande porte, aves e répteis.

Em janeiro deste ano, uma onça parda que vivia em cativeiro já havia sido entregue a pesquisadores do instituto. Apelidada de Euzébia, ela foi encaminhada ao zoológico municipal Sargento Prata, em Fortaleza, Ceará. Segundo os técnicos, animais criados em cativeiro dificilmente podem ser reintegrados ao seu habitat original.

"Não é impossível, mas seriam necessários investimentos e esforços por, pelo menos, cinco anos, considerando que um animal dessa espécie vive até 12 anos em cativeiro", disse Maria Carolina Ramos, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, à BBC Brasil.

domingo, 24 de maio de 2009

Governo vai regularizar na Amazônia área igual à França

O governo federal vai transferir 13% de terras da União localizadas na Amazônia Legal. São 674 mil quilômetros quadrados - praticamente uma área igual a da França. Pelo menos metade dessa área, 340 mil km2, vai para particulares, apesar de o governo não saber quem a ocupa nem se essa ocupação foi pacífica ou de má-fé. Os outros 334 km2 (área maior do que a Polônia) estão divididos oficialmente em 196 mil posses registradas no Incra, das quais cerca de 10% apenas são legais. Mas o próprio governo acredita que esse número é muito maior. “Achamos que vamos a 300 mil posses”, diz Carlos Guedes de Guedes, coordenador do programa Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

O Terra Legal é a divisão do MDA responsável por colocar em prática um dos textos mais polêmicos em discussão hoje no Congresso: a Medida Provisória 458/2009, que dispõe sobre a regularização fundiária da Amazônia Legal. A indefinição sobre quantas posses há na região é apenas uma de suas facetas problemáticas. Ambientalistas e grupos sociais a apelidaram de “MP da grilagem”.

Em vigor desde fevereiro, a MP sofreu na semana passada uma série de modificações na Câmara que facilitam o processo para o posseiro tornar-se proprietário da terra que cobiça. O texto está no Senado, onde a relatora será a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Para ambientalistas, as modificações no texto não cumprem a função social da posse prevista na Constituição - a de beneficiar quem precisa da terra para sobreviver - e vão premiar invasores que usaram violência. “Esse não é um mercado em que todo mundo age de boa-fé. É o contrário. Há artimanhas clássicas como a fraude de documentos e o uso de laranjas”, diz o advogado Raul do Valle, do Instituto Socioambiental (ISA). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: AE

sábado, 2 de maio de 2009

Madeireiros e traficantes frequentam área de reserva para negociar com etnia

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
da Agência Folha, em Belém

Primeira etnia do Pará a ter uma área reservada para si, ainda na década de 1940, os tembés têm hoje um dos territórios mais ameaçados do Estado, de acordo com a Funai (Fundação Nacional do Índio).

A Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste do Estado, foi homologada em 1993. Mas em 1945, quando o modelo jurídico da homologação ainda não tinha sido criado, o interventor federal Magalhães Barata "demarcou" a área para o grupo.

Hoje, a terra é invadida por grileiros, madeireiros, posseiros e traficantes, que plantam maconha lá. Em abril, 2.500 pés da planta foram destruídos pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Em fevereiro de 2008, invasores chegaram a tomar índios como reféns, depois foram presos. Os posseiros reivindicavam áreas dentro da reserva.

Para Juscelino Bessa, administrador da Funai em Belém (PA), os tembés estão sucumbindo às dificuldades e negociando com madeireiros toras retiradas ilegalmente. "Vendem quase de graça."

Valdeci Tembé, um dos líderes da etnia, concorda. "Isso [madeira] não dá quase nada. Vamos ver se o contrato dá certo. A ideia é essa."

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ciência e democracia na Amazônia

Atualmente, a Amazônia está sob três tipos de atuações humanas: daqueles que a exploram, degradando as suas propriedades naturais; daqueles que a consideram intocável e, por fim, daqueles que acreditam que é possível estabelecer uma relação socioambiental harmoniosa. Porém nada ainda evitou que milhares de hectares da floresta desapareçam em cinzas todos os dias

Alain Ruellan

(13/03/2009)

A Amazônia florestal e rural se submete atualmente a três dinâmicas antagônicas, cada uma das quais é apoiada por pontos de vista científicos, independentes entre si.

1- A primeira pode ser qualificada de violenta por se tratar da destruição dos ecossistemas naturais, que são arrancados e queimados. Em seu lugar aparece uma agricultura de subsistência, em pequenas superfícies ou criação de gados e agricultura produtivista, com traços nítidos de mineração e, em geral sobre imensas superfícies adquiridas de maneira frequentemente ilegal.

Há uma pesquisa agronômica, pública e privada, nacional e internacional, que se relaciona com essa dinâmica violenta. Alguns pesquisadores apóiam os mais ricos desses agricultores/criadores que são os atores dessa destruição. Em contrapartida, há outros pesquisadores que apóiam os pequenos produtores para ajudá-los no melhor aproveitamento das terras desmatadas e, assim, frear a dinâmica do desmatamento.

Uma questão: como é que se fazem estas escolhas de colocar as suas competências científicas para uns ou para os outros? Onde acontece o debate e quem decide?

Devemos acrescentar que essa dinâmica violenta é frequentemente justificada pela exploração dos recursos hidráulicos e minerais. São os cientistas que descobrem esses recursos e que propõem as condições de sua exploração. É claro que, nesse momento, o debate democrático costuma fazer falta.

2- Uma segunda dinâmica é aquela da reserva total em grandes superfícies: qualquer nova ocupação humana é proibida ... salvo a dos eco turistas!!!

O objetivo é conservar, proteger recursos, principalmente ecossistemas; e também contribuir a proteger as funções desempenhadas pelos ecosistemas, principalmente as funções biológicas e climáticas. Portanto, trata-se de se dar tempo para conhecer e para entender.

Para a pesquisa científica, as reservas são verdadeira graça divina: em seu interior, é possível realizar tranquilo todas as observações e medidas que permitem entender os funcionamentos naturais e também as relações que existem entre os meios e as sociedades humanas pouco numerosas que lá vivem.

A pesquisa científica, em geral, desempenha também um papel importante para ajudar a delimitar os "parques" e para associar as populações a essa delimitação.

3- Enfim, uma terceira dinâmica, que pode ser chamada de desenvolvimento sustentável, começa a criar raízes: é a dinâmica daqueles que fazem a escolha de ocupar a floresta para viver dela e, assim, protegê-la. É o que ocorre nas reservas chamadas de "extrativistas", nas quais as populações vivem dos recursos biológicos renováveis. É a dinâmica pela qual Chico Mendes brigou e foi assassinado por aqueles que pertenciam à dinâmica violenta; é a dinâmica do PDSA no Amapá - o programa de desenvolvimento sustentável realizado pelo governador João Alberto Capiberibe de 1995 a 2002 - e é também, há cerca de dez anos, a escolha do estado do Acre sob a autoridade dos governadores Jorge Viana e Binho Marques.

A pesquisa científica não está ausente dessa terceira dinâmica, mas é bom refletir sobre as razões de uma presença mais fraca do que nas duas outras. Será o caráter, por assim dizer, mais utópico dessa terceira dinâmica que explica a prudência dos pesquisadores com relação a ela? Ou será que o temor nasce do fato de que o sucesso científico, neste caso, depende de uma relação mais estreita entre pesquisadores e gente do povo?

Atualmente as três dinâmicas disputam uma verdadeira corrida. Durante esses últimos vinte anos, é a destruição violenta, a substituição da floresta pelo gado e pela agricultura produtivista (soja, cana etc), que ganhou e continua a ganhar esta corrida. Apesar da queda recente na taxa de destruição, a destruição anual de 11 mil quilômetros quadrados de floresta natural não pode ser considerada como resultado satisfatório. Destruir a floresta é a solução de facilidade. É a solução economicamente mais interessante a muito curto prazo. Isso porque não se contabilizam, nos custos de produção, as enormes perdas devidas à destruição definitiva das riquezas biológicas e dos solos. Um dia vai ser necessário de pagar por esta destruição e a conta será muito alta!

Em suma, há três dinâmicas em relação às quais o meio científico está presente, mas não se forma unificada: os especialistas se dividem sob o ângulo científico e do ponto de vista político; e isso quer dizer, é claro, que a pesquisa científica, na Amazônia como noutros lugares, não é neutra: ela é influenciável e fortemente influenciada.

Então, algumas questões:

- Escolhas políticas foram feitas e anunciadas pelo Presidente Lula com relação à Amazônia brasileira. Desde 2003, a escolha oficial consiste em apoiar a dinâmica de constituição de reservas e a dinâmica do extrativismo sustentável, ou seja, interromper o desmatamento. É uma boa escolha, mas que suscita duas perguntas óbvias: como esta decisão foi construída e como ela é hoje concretizada? Qual foi o papel da pesquisa, qual foi o papel da relação ciência/sociedade na sua elaboração? Esse papel da pesquisa foi limitado. Isso é um dos fatores que limita severamente a concretização da própria escolha. A ausência de preparo e de acompanhamento democrático constitui uma pesada deficiência.

- A partir disso, de uma maneira mais geral, uma questão importante é como e onde se fazem as escolhas de prioridade científica e as escolhas de procedimento científico. Por exemplo, como e onde se fazem as escolhas quanto às prioridades agronômicas: agricultura em terras desmatadas ou agro floresta nas reservas extrativistas ?

- Onde acontecem os debates democráticos que deveriam associar, no momento da realização das pesquisas, os meios científicos aos meios políticos, mas também os meios científicos diretamente às populações? A iniciativa recente de organizar um fórum permanente "ciência e tecnologia na Amazônia", que reúne os principais responsáveis políticos e científicos da região, é importante, mas insuficiente se as populações não puderem entrar efetivamente em cena.

A pesquisa sobre a Amazônia é, de fato, muito dispersa e muito individualista. E, além disso, ela é, em grande parte, realizada por pessoas que não moram na Amazônia, não vivem no dia a dia da Amazônia, nem vivem no Brasil: isso não facilita as relações entre pesquisa e sociedade e não facilita os debates de programação nacional e internacional.

Então, será que a programação científica não é deixada excessivamente nas mãos dos pesquisadores e dos políticos que tomam as decisões quanto aos financiamentos?

Um exemplo para ilustrar: Brasil e França assinaram, há pouco, um pouco às escondidas, um acordo importante de cooperação científica, cujo objetivo é o conhecimento e a exploração dos recursos biológicos da Amazônia. Qual a participação dos pesquisadores e das populações locais – que não querem que a pilhagem de seus recursos persista – neste acordo? Esse acordo pode ajudar a construir o desenvolvimento sustentável, mas com a condição de que as populações sejam claramente envolvidas, responsabilizadas. "O cupuaçu é nosso", gritam, cada vez mais, as multidões da Amazônia. Elas têm razão.

Quero concluir dizendo que não se deve subestimar a importância das forças democráticas e experimentais que existem na Amazônia. A Amazônia já constitui um grande laboratório de experimentação de procedimentos democráticos a serviço do bem-estar das sociedades humanas: é necessário dispor do tempo necessário para conhecer e valorizar essas experimentações. Já se sabe muito sobre os meios e sobre as sociedades da Amazônia. Muitas experiências de estratégias de "desenvolvimento sustentável" já foram realizadas e muitas estão acontecendo agora. O que devemos fazer para que estes conhecimentos sejam utilizados sem mais atraso?


Fórum

domingo, 29 de março de 2009

Amazônia é menos protegida no Brasil

CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

O Brasil é um dos países que têm proporcionalmente menos territórios indígenas e áreas protegidas na Amazônia, segundo mapa que será publicado nesta semana por uma rede de 11 ONGs sul-americanas.

São 39,6% da Amazônia brasileira sob proteção na forma de terras indígenas e unidades de conservação de vários tipos, contra 56% da Amazônia colombiana, 79,7% da equatoriana e 71,5% da venezuelana. Somente o Peru destina uma proporção menor de sua selva às reservas florestais e às comunidades indígenas: 34,9%.

O mapa, produzido pela Raisg (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada), é o primeiro a localizar as áreas protegidas e os territórios indígenas dos nove países amazônicos.

Considerando só este último quesito, o Brasil também fica atrás dos vizinhos: 50,6% da Amazônia colombiana, 25,7% da boliviana e 65% da equatoriana são indígenas.

Em números absolutos não há como comparar a extensão dessas terras com a fatia proporcionalmente menor sob proteção no Brasil --país que tem 64,3% da Amazônia. "Dos 3,2 milhões de quilômetros quadrados de áreas protegidas na Amazônia, 1,9 milhão estão no Brasil", diz o antropólogo Beto Ricardo, do ISA (Instituto Socioambiental), que coordenou a montagem do mapa.

Porém, o trabalho revela que alguns países da região têm mantido a sua porção amazônica razoavelmente protegida, o que, em alguns casos, significa uma proporção grande do território nacional.

Na Colômbia, por exemplo, toda a Amazônia (que representa 43,3% do país) é considerada "reserva florestal" -embora apenas 13% estejam efetivamente em áreas protegidas. São 240 mil quilômetros quadrados em terras indígenas.

A situação do Equador é ainda mais simbólica. As terras indígenas amazônicas reconhecidas pelo governo correspondem a 30% da área do país. No Brasil, todas as terras indígenas, somadas, respondem por 13% da área nacional, número que o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) já disse considerar alto demais.

"No Equador, o processo de reconhecimento oficial de territórios indígenas na Amazônia é menos burocrático que no Brasil", diz Beto Ricardo. "A região é praticamente toda ocupada por povos indígenas e, ao reconhecer seus direitos, o governo já excluiu as propriedades privadas existentes."

Em outros países, como a Venezuela, o processo de demarcação das terras indígenas é mais atrasado. O governo venezuelano não reconhece as terras (nem mesmo a ianomâmi, demarcada e homologada desde os anos 1990 no lado brasileiro), denominando-as "zonas de ocupação indígena", sobrepostas a parques nacionais.

Como resultado, não existem dados oficiais sobre as terras indígenas no país, que acabam sob proteção menor. "O único mapa disponível era o do serviço de saúde indígena", diz Alicia Rolla, especialista em sensoriamento remoto do ISA.

A Amazônia é nossa

A melhor notícia do mapa é que, mesmo com 33 milhões de habitantes e 370 povos indígenas distribuídos por nove países com perfis econômicos diversos, a Amazônia possui 41,2% dos seus 7,8 milhões de quilômetros quadrados sob algum tipo de proteção.

Mesmo assim, 17% da floresta já tombou em toda a região, e ainda não existe um diagnóstico do que está acontecendo dentro de cada área protegida.

Na fronteira do Brasil com o Peru, por exemplo, há ação de madeireiros do lado peruano, apesar de haver um mosaico contínuo de áreas protegidas de ambos os lados. No Equador, empresas de petróleo (como a Petrobras) atuam em áreas indígenas e parques nacionais.

Segundo Ricardo, o mapeamento deverá ajudar a criar estratégias de conservação transfronteiriças. E ajuda a visualizar o impacto que decisões tomadas em um país podem ter sobre a floresta e as populações indígenas do vizinho.

"Esse mapa é uma contribuição para o ressignificado da expressão tão comum em cada país amazônico de que "a Amazônia é nossa". Afinal, não adianta, por exemplo, o Brasil proteger ou explorar os cursos médios das grandes bacias amazônicas sob o império da soberania nacional se as cabeceiras desses mesmos rios estão em países vizinhos."

O mapa poderá ser obtido a partir desta sexta-feira na internet (www.raisg.socioambiental.org).

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Fórum 71: Qual é o outro mundo possível? (Revista Fórum)

[Sexta-Feira, 20 de Fevereiro de 2009 às 11:11hs]

A edição de fevereiro de Revista Fórum traz 18 páginas de cobertura do Fórum Social Mundial 2009, realizado em Belém (PA). Os principais desafios colocados ao movimento que luta por outro mundo possível, os rumos do evento e os resultados da edição em território amazônico são discutidos na edição que chega nesta semana às bancas de todo país.

Um dos destaques é a participação de indígenas e quilombolas no evento. Outras reportagens abordam a presença de cinco presidentes sulamericanos no FSM, a relação com a cidade de Belém e seus bairros periféricos e a questão da comunicação. Uma entrevista com o cientista político filipino Walden Bello e as articulações dos movimentos negro, de mulheres e de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT) completam a cobertura.

Outras notícias
Além da cobertura do FSM, a edição de fevereiro traz um ensaio de Frei Betto sobre os 100 anos de dom Helder Câmara, completados no dia 2 de fevereiro. As comemorações e reflexões dos 50 anos da revolução cubana são tema de reportagem assinada por Brunna Rosa, de Havana.

A imigração de bolivianos para a cidade de São Paulo é pano de fundo da matéria sobre a Kantuta, feira de bolivianos radicados na cidade, atualmente 100 mil pessoas. A queda nos preços de materiais recicláveis também é destaque.

Novo colunista
A edição 71 da Fórum também traz a estreia de Idelber Avelar como articulista. O autor do blogue O Biscoito Fino e a Massa (www.idelberavelar.com) passa a assinar a coluna “Outro Olhar”, para discutir aspectos não-abordados pela mídia convencional. Avelar já havia assinado um artigo na revista na edição de julho de 2008, sobre a candidatura de Barack Obama. Em sua primeira contribuição como colunista, o tema é a ação militar o exército israelense na Faixa de Gaza que resultou em 1.300 mortes de palestinos.

Os ataques a Gaza são tema de entrevista com o europarlamentar português Miguel Portas. Em visita aos locais atacados, ele narra o horror deixado pela ocupação. “Bastava que EUA e Alemanha dissessem 'meus amigos, acabou, fecharam-se as torneiras' e em 48 horas isso se resolvia. Esse é ponto. Por que raios a comunidade internacional tem que estar do lado do mais forte?”, lamenta.